domingo, 11 de setembro de 2011

Poema de Sebastião Uchoa Leite
 
TRÍVIO

1.1  O grafo da letra
      A letra grafada
      O grifo da letra.

1.2  O cravo da língua
      A língua cravada
      O crivo da língua.

2.1 A prega do verso
      O verso pregado
      A praga do verso.



2.2 A crosta do poema
      O poema crestado
      A crista do poema.

3.1 O trevo da arte
      A arte travada
      O travo da arte.

3.2 A droga do tempo
      O tempo dragado
      A draga do tempo.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Poemas de Paulo Leminski

Ouverture la vie en close

    em latim
“porta” se diz “janua”
   e “janela” se diz “fenestra”

    a palavra “fenestra”
não veio para o português
    mas veio o diminutivo de “janua”,
“januela”, “portinha”,
    que deu nossa “janela”
“fenestra” veio
    mas não como esse ponto da casa
que olha o mundo lá fora,
    de “fenestra”, veio “fresta”,
o que é coisa bem diversa.

    já em inglês
“janela” se diz “window”
    porque ela entra
o vento (“wind”) frio do norte
    a menos que a fechemos
como quem abre
    o grande dicionário etimológico
dos espaços interiores




INVERNÁCULO

(3)

    Esta língua não é minha.
qualquer um percebe.
    Quando o sentido caminha,
a palavra permanece.
    Quem sabe mal digo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
    Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
    Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
    uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
    O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
    eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

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