quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca. 5.ed. São Paulo: Papirus, 1995. 115p.

Leitura na escola e na biblioteca

Para quem se interessa por educação, a obra Leitura na escola e na biblioteca, de Ezequiel Theodoro da Silva, oferece reflexões interessantes. Reunindo nove textos, alguns deles seguidos de debates, apresentados pelo autor em conferências, seminários e congressos, entre outros eventos pelo Brasil, e um capítulo com propostas de trabalho para dinamizar leituras em escolas de 1º e 2 º graus,  a obra aborda a importância da leitura, especificamente dentro da sociedade brasileira, de maneira contundente, fazendo com que o leitor reflita de que forma ela é utilizada e, muitas vezes, deixada de lado pela escola. A julgar por suas outras obras, como O ato de ler (1981) e Leitura e realidade brasileira (1983), Ezequiel possui sustentação teórica e conhecimento prático para falar do tema. 
A “crise da leitura”, analisada pelo autor, assume uma nova proporção: ela é um problema social, desde o período colonial, e, para vencê-lo, é preciso, antes de mais nada, transformar a realidade, evitando a discriminação no processo de formar novos leitores. Ezequiel cita, por duas vezes, em seu livro, o conhecido pensamento de Monteiro Lobato: “A um país se forja com homens e livros” – nada mais verdadeiro e de acordo com sua proposta de utilizar adequadamente os livros, nas escolas e bibliotecas. Em seus textos de Leitura na escola e na biblioteca, podem-se encontrar planos para uma escola mais interessada no que se passa ao seu redor, formada por professores capacitados para exercer sua profissão de maneira talentosa e bibliotecários conhecedores de seu principal papel: fornecer um acervo qualificado para os leitores, que, na maioria dos casos, não possuem condições de comprar livros.
Dentro de uma linha de pensamento corrente em seus textos, Ezequiel parte do princípio básico de que o leitor, ao compreender o texto, está abrindo seus horizontes, isto é, descobrindo não só a leitura, mas o próprio mundo que o cerca, considerando que a leitura proporciona, como poucas atividades, o conhecimento. 
A partir desta linha de pensamento, Ezequiel considera de suma importância a leitura tanto na escola quanto na biblioteca, colocando o professor e o bibliotecário, respectivamente, como figuras básicas, quase de cunho político, no acesso ao conhecimento. Sob este ponto de vista, a proliferação da leitura dependeria apenas de um contato permanente e fortalecido entre a escola, em que o professor estuda textos com seus alunos, e a biblioteca, onde o estudante vai buscar mais conhecimentos e subsídios para novas pesquisas, o que dificilmente acontece na sociedade brasileira, que é, afinal, o foco central da obra de Ezequiel.   
Para que haja mudanças, o autor considera essencial o fato de o aluno não ser visto como o culpado pelo fracasso da leitura na escola. Conforme Ezequiel, os bibliotecários devem estar conscientes de seu papel, visto que lidam com alunos das escolas e precisam estar necessariamente informados sobre qualquer tipo de assunto, a fim de montarem acervos possibilitadores de uma boa investida às pesquisas, além de simplesmente classificarem e catalogarem obras.
A biblioteca, afinal, torna-se indispensável às pessoas que não possuem condições financeiras de comprar livros, sendo o único meio de manter uma ligação sem rupturas com o conhecimento. Ela proporciona, ao mesmo tempo, os três tipos de leitura considerados no texto “O que é ler/Por que ler”, um dos mais interessantes da obra de Ezequiel, por suas colocações extremamente práticas e aproveitáveis no cotidiano escolar. O primeiro tipo é o da leitura informacional, feita em jornais, revistas e outros periódicos; o segundo, da leitura de conhecimento, relacionada diretamente com pesquisas e estudos; e o terceiro, da leitura de prazer estético, encontrada na poesia e em outros gêneros literários, sem dúvida a mais prejudicada no ambiente escolar, pelas obrigações que oferece, entre as quais, mais comuns, estão o tempo predeterminado para leitura e a ficha posterior de leitura.
Por isso, Ezequiel clama tanto pela união entre escola e biblioteca. Uma não pode viver sem a outra, dentro de um universo democrático, onde o conhecimento não pode ser negado. E por tudo isso sua obra é tão importante e indispensável, sobretudo àqueles que não conseguem entender por que, na estrutura social brasileira, alguns sempre entendem e se informam mais do que outros. Em suma, a obra é um convite à leitura da sociedade, indispensável para a construção de novas propostas e posturas, algumas delas apresentadas por Ezequiel, é bom lembrar, no último capítulo do livro.

domingo, 27 de novembro de 2011

Poema de Murilo Mendes

TEXTO DE CONSULTA

                              1

A página branca indicará o discurso
Ou a supressão do discurso?

A página branca aumenta a coisa
Ou ainda diminui o mínimo?

O poema é o texto? O poeta?
O poema é o texto + o poeta?
O poema é o poeta – o texto?

O texto é o contexto do poeta
Ou o poeta o contexto do texto?

O texto visível é o texto total
O antetexto o antitexto
Ou as ruínas do texto?
O texto abole
Cria
Ou restaura?

                             2

O texto deriva do operador do texto
Ou da coletividade - texto?
O texto é manipulado
Pelo operador (ótico)
Pelo operador (cirurgião)
Ou pelo ótico-cirurgião

O texto é dado
Ou dador?
O texto é objeto concreto
Abstracto
Ou concretoabstrato?

O texto quando escreve
Escreve
Ou foi escrito
Reescrito?
O texto será reescrito
Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico;
Pela roda do tempo?

Sofre o operador:
O tipógrafo trunca o texto
Melhor mandar à oficina
O texto já truncado.

                          3

O texto é micromenabó do poeta
Ou o poeta o macromenabó do texto?


                          













                          4
   
A palavra nasce-me
               fere-me
               coisa-me
               ressuscita-me

                          5

Serviremos a metáfora?
Arquivaremos a?

Metáfora: instrumento máximo;
                                           CASSIRER.

A própria linguagem do homem.
                          ORTEGA Y GASSET

Invenção / translação.

                           6

A palavra cria o real?
O real cria a palavra?
Mais difícil de aferrar:
Realidade ou alucinação?

Ou será a realidade
Um conjunto de alucinações?

                           7

Existe um texto regional / nacional
Ou todo texto é universal?
Que relação do texto
Com os dedos? Com os textos alheios?

Giro                    NÉ POUR D’ÉTERNELS
Com o texto a tiracolo
                                           PARCHEMINS

Sem o texto
                                            (MALLARMÉ)

Não decifro o itinerário.

Toda palavra é adâmica:
Nomeia o homem
Que nomeia a palavra.

Querendo situar objetos
Construímos um elenco vertical.
Enumeração caótica?
Antes definição.
Catalogar, próprio do homem.

                             8

Morrer: perder o texto
Perder a palavra / o discurso

Morrer: perder o texto
Ser metido numa caixa
              Com testo
              Sem texto.

                             9

Juízo final do texto:
Serei julgado pela palavra
Do dador da palavra / do sopro / da chama.

O texto-coisa me espia
Com o olho de outrem.

Talvez me condene ao ergástulo.

O juízo final
Começa em mim
Nos lindes da
Minha palavra.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Poema de Carlos Drummond de Andrade

A PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.















Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

domingo, 11 de setembro de 2011

Poema de Sebastião Uchoa Leite
 
TRÍVIO

1.1  O grafo da letra
      A letra grafada
      O grifo da letra.

1.2  O cravo da língua
      A língua cravada
      O crivo da língua.

2.1 A prega do verso
      O verso pregado
      A praga do verso.



2.2 A crosta do poema
      O poema crestado
      A crista do poema.

3.1 O trevo da arte
      A arte travada
      O travo da arte.

3.2 A droga do tempo
      O tempo dragado
      A draga do tempo.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Poemas de Paulo Leminski

Ouverture la vie en close

    em latim
“porta” se diz “janua”
   e “janela” se diz “fenestra”

    a palavra “fenestra”
não veio para o português
    mas veio o diminutivo de “janua”,
“januela”, “portinha”,
    que deu nossa “janela”
“fenestra” veio
    mas não como esse ponto da casa
que olha o mundo lá fora,
    de “fenestra”, veio “fresta”,
o que é coisa bem diversa.

    já em inglês
“janela” se diz “window”
    porque ela entra
o vento (“wind”) frio do norte
    a menos que a fechemos
como quem abre
    o grande dicionário etimológico
dos espaços interiores




INVERNÁCULO

(3)

    Esta língua não é minha.
qualquer um percebe.
    Quando o sentido caminha,
a palavra permanece.
    Quem sabe mal digo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
    Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
    Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
    uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
    O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
    eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

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